quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

VAI SUBIR PRA 2010

Já em ritmo de carnaval 2010, o autor deste blog chama no repique e, humildemente, vem aqui fazer suas análises sobre os sambas de cada escola do Grupo Especial. A disputa está mais acirrada do que eu pensava. De primeira, já dá pra encontrar 4 sambas bons, mas, mesmo assim, de uma forma geral, os compositores ainda estão deixando a desejar. Vamos a eles.


Salgueiro
Seguindo o sucesso que teve no carnaval passado, o rubro da tijuca optou novamente por um enredo simples e ao mesmo tempo amplo. Vai falar sobre livro, leitura etc. O samba não é ruim, mas está longe de ser uma boa música. O maior valor vem no microfone, pois, o Quinho arrebenta e consegue colocar até um bolero de ravel pra cima. A melodia faz parecer que o samba vem todo no embalo, nos estilo "vamo lá, porra!". Tá valendo, na avenida pode funcionar. Mas, pra mim, não merece o bi.

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Beija-Flor
O samba que começa com a introdução de O Guarani e fala de Brasilía, a capital que já não é tanto da esperança assim, é um dos piores do carnaval. Com a escolha do enredo, algumas pessoas achavam que a azul e branco de Nilópolis ia, depois de muito tempo, deixar de falar dos ancestrais, mas se enganaram. É claro que eles acharam a inspiração no Rei Sol do Egito para a construção da arquitetura da cidade. Pra dar um sopro depois da porrada, a melodia tem umas subidas de tom boas, apesar da letra ruim. E o Neguinho é sem comentários. Genial.

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Portela
O enredo é complicado (falar de internet num samba fica feio), o samba é, de longe, o de menos qualidade dos autores tetracampeões, mas uma coisa tem que ser dita: ele não sai da minha cabeça. É impressionante, basta escutar que a melodia fica martelando o meu cérebro o dia inteiro. Ponto alto é o refrão do meio que exalta a escola e tem um grito "sou Portela" que levanta a galera. Acho que a maior qualidade da trupe de compositores é a tentativa de sempre inovar na melodia. Eles mostram isso na segunda parte, que é a minha "lavagem cerebral".

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Vila Isabel
Enredo sobre Noel e um samba de Martinho, mistura mais que perfeita para a Vila. É emocionante, é bonito, é fora das regras da arte que perdura hoje em dia e arrepia. Mutos dizem que o samba não empolga e que por ser a penúltima vai dar sono na plateia. Samba bom pra mim não empolga, emociona, e é justamente isso que acontece quando ouço este. Alguém lembra de "Herois da Liberdade", do Império Serrano? Pois é disso que estou falando. Se o poeta baixar na avenida vai ficar ruim segurar a Vila este ano, e com um samba desse é possível que Noel apareça mesmo de terno branco e camisa azul tocando violão no carro de som. Acho também que o prato tocando no contra-tempo da bateria dá um ar ainda mais clássico ao samba. Obra-prima!

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Grande Rio
Desde o "Imponho sou Grande Rio, amor!" a escola de Duque de Caxias nunca mais foi a mesma, a parada desandou de vez. As duas coisas que sobram de bom nessa história são a bateria - muito bem regida pelo mestre Odilon durante muito tempo e que agora está nas mãos do Ciça -, e o Wantuir, que é um baita intérprete. Este ano a escola vai homenagear o camarote nº1, o da Brahma, tudo a ver né? Só não se sabe que é o camarote que vai estar desfilando na avenida ou a escola que vai estar no camarote. Samba ruim.

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Mangueira
Depois de dois anos fracos, parece que bons frutos vêm por aí. Agora, sob o comando de Ivo Meirelles, a Estação Primeira apresenta um bom samba e principalmente um diferencial nas jogadas de marketing. O novo presidente se adiantou e já gravou uma levada mais pop (samba-rock) para tocar nas rádios e também um vídeoclipe, produzido pela Conspiração, do hino deste ano. O enredo é sobre a música brasileira e a letra não foge do tema em nenhum momento, sempre trazendo passagens de obras marcantes nos versos. Isso tudo é fruto de um bom entrosamento dos compositores que já são velhos conhecidos campeões de sambas dos blocos na cidade. Foi a primeira vez que eles levaram a disputa na escola. O espírito é esse, renovação! O samba da Mangueira está no meu top 4, também. Mas, sem deixar de dar uma cornetada, a introdução do Emílio Santiago cantando Roupa Nova é cafona pra cacete!

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Imperatriz Leopoldinense
Este é disparado o maior favorito para o estandarte de melhor samba-enredo do ano. A Imperatriz vem falando de religião e com uma música maravilhosa. Levada cadenciada, letra linda e melodia idem. Ao mesmo tempo podemos sentir uma peregrinação de católicos e um ritual no terreiro de umbanda misturados. Como bem diz o samba, nesse país de "tanto Deus, tanta religião", o objetivo deve ser este mesmo. Dominguinhos, um mestre na arte de puxar samba, arrebenta e é uma dádiva sua volta ao Grupo Especial. Emocionante.

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Viradouro
Típico samba chicletinho, e sem gosto ainda. Assim como todo samba que homenageia um país, a Viradouro mostra que vai passar esse ano só pra arrecadar mais dinheiro no caixa com patrocínio. É muito difícil repetir o sucesso inesperado da Vila em 2006, quando ganhou o carnaval cantando sobre a Venezuela. A escola vem falando do México, e traz uma música sem empolgação, com letra que não fede e nem cheira e uma melodia comum. É isso, vai desfilar só pra constar este ano.

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Unidos da Tijuca
Se o samba da Imperatriz é o melhor melodicamente, o de melhor letra acaba de ser conhecido. Com o enredo "Segredo" a Tijuca está com um samba que esculacha. A letra é realmente uma brincadeira com tudo que guarda segredo, mexe com quem escuta e vem numa levada bastante pra cima. Me lembra bloco de carnaval também. O samba é bom e o desfile promete, mas com certeza o Paulo Barros deve tá mantendo um segredo danado disso tudo. É ver pra crer, enquanto isso escute o samba que, junto com Mangueira, Imperatriz e Vila Isabel, fecha o G-4 deste ano!

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Porto da Pedra
O enredo é criativo e ainda faz uma homenagem ao centenário de Noel Rosa. Mas acho que assim como internet, falar de moda também é difícil. Além disso, o samba não é nada bom, coisa que vem se repetindo na escola desde 1997, quando falou da Loucura e garimpou o 5º lugar. Convenhamos, é difícil ver a Porto da Pedra resistindo no Grupo Especial, enquanto o Império Serrano fica penando no Acesso.

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Mocidade
Depois de muito tempo a escola apresenta um samba que, se não podemos falar que é bom, pelo menos cativante. O refrão pega e com certeza vai deixar a Mociadade numa posição muito mais confortável que este ano, quando bateu na trave do rebaixamento. É desnecessário tecer comentários sobre a bateria que arrebenta e tem uma das melhores levadas de caixa, justamente por ser simples. Beleza de samba, mas vai ficar pelo meio da tabela.

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União da Ilha
"Ôôôô...a União voltou! A União voltou! A União voltou!". Sim, ela voltou, até que enfim! E quebrando o embalo do que vinha acontecendo com as escolas que subiam do Acesso, a Ilha não vai repetir samba (palmas!). Ela ainda traz uma música boa pra caramba, falando de Don Quixote e retorna com alegria para o Grupo Especial para nunca mais descer. Se Deus quiser. A curiosidade da gravação é na segunda parte, onde numa bossa, quem faz o pica-pau (chama a volta da bateria) é um surdo de terceira. Nunca tinha visto isso antes. Maneiro. Salve a Ilha!

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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Bola no pé e lágrima no olho

A semana é tensa, intensa e parece não acabar. Um Campeonato Brasileiro efervescente, com 4 times disputando o título. Um é o atual tricampeão; outro é o último campeão da Libertadores; o terceiro se montou para a conquista que espera há muito tempo; e por último, o time que por mais zoneado que seja estruturalmente é movido pelo combustível da paixão e deve algo à sua imensa torcida.

Os 4 se emparelham não só neste campeonato, mas também na vida. Todos têm títulos da Libertadores (três são campeões mundiais), juntos somam 18 troféus nacionais e a cada ano têm que provar sua força, por mais que ela já seja reconhecida.

Interessante analisar o campeonato como um todo. Em cada momento ele foi de um dos 4. No começo era do Inter, time que matava todo mundo até com os reservas e era disparado o favorito. Favoristimo este que se enfraqueceu pela perda da Copa do Brasil no meio do ano.

Enquanto o colorado dos pampas perdeu o pique, o Palmeiras foi subindo. E quando o Wanderley saiu, para assumir o auxiliar Jorginho, teve uma sequencia fenomenal que o pôs na liderança e ainda deixou algumas gordurinhas para se manter por lá. Mas, aí, o Jorginho recolocou o boné e voltou para auxiliar, dando lugar ao técnico mais badalado do momento, Muricy Ramalho.

Por ironia do destino, ele, que já não estava fazendo um bom trabalho no São Paulo, foi para o Palmeiras e confirmou a falta de competência que vem te assombrando. Enquanto Muricy empurrou o Palmeiras ladeira abaixo, seu substituto no ex-time, Ricardo Gomes, comandava uma bela arrancada do tricolor.

O Flamengo, do Cuca, vivia de altos e baixos, e quando os baixos começaram a aparecer no Maracanã, ele guardou a prancheta no saco e meteu o pé. Pra variar, Andrade assumiu. Só que neste ano foi diferente, o Tromba foi acumulando bos resultados, e como a diretoria não acertou com ninguém, ele foi mantido. Porém, foi só ganhar sua promoção que o Flamngo teve uma sequencia de três derrotas. E aí? Fizeram merda? Se fizeram, o que valia era torcer. E assim fio feito, até que ele deu a volta por cima com trablho, serenidade e a chegada de alguns jogadores. Hoje, o time mostra o melhor futebol com o artilheiro e o melhor jogador do campeonato.

No meio dessas trocas, o Atlético-MG, mediano como sempre, até ficou algumas rodadas lá em cima, mas com o passar do tempo virou coadjuvante, previsão mole se tratando do time e de Celso Roth.

Quem merece o título? Todos os 4, claro. Mas como tem bola, essa galera tem também um talento em reclamar. Será possível que depois dessas performances de cada postulante ao título ainda há a possibilidade de pensarem que o campeonato vai ser comquistado por causa de uma mera "entrega de jogo" de um outro que não fez nada na competição?

Por causa do nervosismo e até da insegurança, foi só a rodada de domingo acabar que a pergunta mais constante, em vez de ser "Quem vai ser o campeão?" foi "O Grêmio vai entregar?".

Assim como o Flamengo, qualquer um dos outros 3 poderia estar nessa situação, jogar com o Grêmio. Se tivesse tanta certeza do corpo-mole, o Inter, que no começo era o principal candidato ao título, e que segundo os comentaristas "estava voando" (é brincadeira) teria que começar a reclamar com a CBF já no sorteio dos jogos para se montar a tabela. Ou será que ele já estava fazendo isso há 5 ou 6 rodadas atrás, quando era quinto? Aliás, os colorados realmente acreditavam que chegariam em segundo na reta final?

Não se deve tentar tapar a incompetência com a suposta má vontade do rival. E, realmente, se trata de tanta "má vontade" assim? O Grêmio é o segundo pior time jogando fora de casa, não está nem aí para o campeonato e não ganha do Flamengo no maracanã há 7 anos. (assim como o Fla não ganha do Grêmio no Olímpico)

O Palmeiras entrar nessa história é a coisa mais nojenta que poderia acontecer. O time que ficou 17 rodadas na liderança e tem o "melhor técnico do Brasil" (o Muricy é uma merda) perdeu a liderança por quê? Incompetência! Volta no tempo, palmeirense, e lembra do Sport, do Avaí, do Santo André e do Fluminense.

Não adianta sofrer com antecedência. Fiquem ligados no Santo André e Botafogo, que são seus adversários.

E que o Flamengo não seja incompetente no Maracanã domingo. A nação não merece.

Vamos Flamengo. SRN

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Ao mestre João

Hoje, e já era tempo, vou falar de João Nogueira, um dos maiores personagens no mundo do samba na minha opinião. Feliz coincidência, ele também é aniversariante do dia 12 de novembro como Paulinho da Viola, mas seria uma tarefa muito trabalhosa falar dos dois em apenas um post.

Rubro-negro, malandro, carioca e bom bebedor, João Nogueira foi muito mais que um sambista, mas sim, um defensor de nossa cultura. Um cara que sempre fugiu da intervenção no samba, fazendo com que este fosse puro - ou o mais perto de sua pureza, já que sabemos que esse conceito na música brasileira é complicado.

Foi um cara de corpo fechado, protegido por São Jorge, um ser de luz consumido pelo poder da criação. Criador do Clube do Samba, amante da Portela e da Tradição, amado por todas as escolas e muita gente. Sabia usar a ironia para contestar e também ilustrar a vida do carioca, mais um perfeito cronista da cidade.



Infelizmente, no ano 2000 ele teve o conhecimento do outro lado da vida, e a morte passou a não ser mais ilusão como cantava. Mas deixou muita coisa boa e a cada dia pode-se encontrar uma canção nova dessa fera que teve como parceiros um time bem fraco como Paulo César Pinheiro, Maurício Tapajós, Baden Powell entre outros. Até com o mestre Noel, ele tem uma parceria. Não acredita? Então confira aqui Ao Meu Amigo Edgard, letra de Noel, que depois de anos foi musicada por João.




Músicas preferidas? Tenho várias, inúmeras. De bate-pronto: "Minha Missão", "Chico Preto", "Súplica", "O Homem dos 40" e "Besouro da Bahia". Claro que ainda tem outras muitas, isso porque eu nem quis citar as consagradas obras "Poder da criação", "Espelho", "Além do Espelho" e "Um ser de Luz" e por aí vai.

Melhor disco do cara também é difícil, mas meu palpite é "Vida Boemia".

Fechando o texto, trago uma bela homenagem de Jorge Simas e Paulo César Feital para "esse malandro de primeira com sobrenome de madeira e labareda no olhar".



Um brinde a João Nogueira!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Esse negro tem história, meu irmão



Fez anos ontem um dos caras que, posso afirmar, não reside no mesmo patamar que pobres mortais como nós, Paulinho da Viola completou 67 primaveras.

Tanta exaltação de minha parte, convenhamos, é compreensível, até porque o mestre é uma unanimidade entre fãs, músicos e rodas de samba. Acho que não há uma roda que não toque
Paulinho da Viola, é muito difícil se desvencilhar. A causa disso é que a sua música cativa e faz a gente sempre recordar, até involuntariamente. Isso, sem contar que dá pra fazer um samba de mais de três horas só com elas, sem repetir uma.






Como fã, posso dizer que Paulinho já serviu de trabalho da faculdade, inspiração para compor, assunto na mesa de bar e embalo na roda de samba.
Músicas preferidas? Tenho várias. Posso falar 5 delas, não necessariamente nesta ordem: "Memórias Conjugais", "Amor é Assim", "Coisas do Mundo, Minha Nêga", "Uma História Diferente" e "Não Posso Negar".






Melhor disco: Zumbido.

E como o mestre também gosta de passear pelo choro, na minha humilde opinião, a melhor música dele nesse gênero é "Rosinha, essa Menina". [Infelizmente não acho vídeos dela e, por enquanto ainda não dá pra colocá-la aqui, mas assim que for possível disponibilizarei]

Enfim, termino o texto com uma música não menos magistral que todas que citei. Lembrei ontem com prazer em um momento no samba em Botafogo. Com vocês, o Mestre e Amelia Rabello em "Ruas que Sonhei".





Parabéns!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Pelo desrespeito no futebol

O jogo entre Flamengo e Galo no Mineirão - para mim, a final do campeonato - tem tudo para ser um grande espetáculo, mas a atmosfera deveria estar diferente. Acabei de ler a matéria no Globoesporte.com com o Willians falando em cautela e outras coisas importantes. Tudo bem, cautela podemos até ter, mas falar que "o empate lá é uma vitória" porque "não estamos pensando no título, e sim, em se manter no G-4" é um desrespeito à nação. Não digo porque é o Flamengo, mas se fosse com qualquer time.

Vejamos: a 4 pontos do líder, com ainda 5 rodadas pela frente, é claro que o Flamengo está na briga e quer ganhar domingo pra ser campeão e não pra ficar no G-4. Hoje parece que garantir a vaga pra Libertadores está mais importante do que o próprio título.

Fico pensando como se sentem os craques da antiga ao verem esse futebol brasileiro com tanta cautela, preocupação defensiva e joagndo com três volantes no meio. E não é só isso. Futebol em que e jogador faz um gol e na comemoração quase reza uma missa dentro de campo. Isso quando ele quer comemorar, pois às vezes não faz nada por "respeito à torcida adversária".

Essa questão do desrespeito é uma babaquice. O cara não pode dar um drible de efeito, é desrespeito. Mas, o zagueiro pra dar uma lição de moral, pode dar uma voadora no joelho dele.

Eu não sou do tempo em que o Manga falava que o bicho já era garantido quando o jogo era com o Flamengo, nem vi o Leandro dar um lençol na entrada da área pra sair jogando e depois bater no peito falando que "jogava pra caralho". Porém, assisti a algumas gracinhas de Renato Gaúcho, Viola, Djalminha, Romário e outros.

Se o futebol ficar muito cortês, no futuro ninguém vai poder sacanear o outro na rua porque o time ganhou, talvez nem a camisa do meu time vou poder usar mais, porque pode ser um desrespeito com o perdedor.

Desrespeito é o que anda acontecendo. Jogadores sem amor à camisa, relaxados, sem gana de brigar pelo título e com medo de jogar com alegria. Assim como a imprensa, que está sempre em cima do muro, chovendo no molhado e querendo educar o futebol. Alguns comentaristas, além de falarem o que simplesmente todo mundo já está vendo, ainda criticam os jogadores mais irreverentes.

Por isso, sou adepto da provocação, do lençol, da caneta e do dedo na boca mandando o adversário se calar. Se isso é desrespeito, fica aqui o primeiro apoio à prática.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Cuidado com a sétima corda



É muito bom falar de samba e ver como ele está caindo cada vez mais no gosto dos jovens, principalmente, no Rio de Janeiro, seu berço, de fato. Uma prova disso é o grande número de grupos que vai surgindo no embalo da chamada "nova geração da Lapa", que trouxe o bairro de volta à tona nos cantos de Teresa Cristina, Galloti e cia.

Nessa maré, é claro que nem tudo são flores, há o pessoal que tem talento, que ama o samba e que realmente quer levar isso pra frente, mas também, tem muita mentira, muita modinha e muitos aproveitadores.

Eu já esquentei muito a cabeça com esse troço e confesso que era meio "xiita" quando se tratava de samba. Hoje, simplesmente, procuro separar as coisas. Frequento, escuto e apoio o que gosto, e o que não gosto, quero distância. Respeito, mas eles lá e eu aqui.

Se o cara até quatro anos atrás só gostava de rock'n roll, tinha bandinha na escola, e a coisa mais diferente que fazia do seu universo era sair para as noites de forró pra dançar e pegar umas mulherezinhas - que era a moda há algum tempo, quando essa galera nao falava de samba - e hoje, é integrante de um grupo que faz sambinha na faculdade e que em seu repertório traz só mestres do SAMBA DE RAIZ, como Cartola, Nelson Cavaquinho e João Nogueira, tudo bem. Deixa. É muita malandragem.

Engraçado como é essa galera. Samba, pra eles, é Cartola ("Alvorada" / "As Rosas Não Falam" / "Corra e Olhe o Céu"), Nelson Cavaquinho ("A Flor e O Espinho" / "Folhas secas" / "Juízo Final"), e o João Nogueira (O Poder da Criação). Só. É assim que eles tiram onda nos sambinhas que vão. E ainda, não têm nem o interesse de saber um pouco mais sobre esses compositores citados. De outros então...

Antes de me interpretarem mal, não vejo problema em gostar de samba e também ouvir rock, rap, blues, o diabo que for. Todo mundo deve escutar música boa, seja ela em qualquer estilo. O problema é começar a ouvir samba e achar que com 3 músicas do Cartola ou do Candeia já sabem tudo sobre o samba. Sua história, filosofia, e o mais importante, sua essência.

É muita malandragem.



Portanto, meus caros, em matéria de samba novo, de nova geração, o negócio é prezar quem está aí pra continuar essa história, e não quem está só de passagem. Vamos prestigiar grupos, cantores e cantoras que sabem o que estão fazendo nos palcos, bares e outras casas de shows.

Que estão presentes nas rodas de samba, sem medo e, principalmente respeitando e reconhecendo o trabalho de quem já deitou na cama merecidamente. Aqueles que além de reverenciar a velha guarda, lembrando sempre seus sambas, estão aí compondo, apresentando e criando, coisa que o samba precisa, porque o tempo não espera ninguém. O samba, como tudo na vida, necessita de renovação, sangue novo, nova carga. "Luar que não muda, não muda a maré", já dizia Wilson Moreira.

E pra esse pessoal que tá aí no circuito pra cantar música manjada e pegar as dondocas, deixem onde estão. Uma hora eles encontram outro sucesso, e formam outras Bandinhas. A moda passa e eles passam, mas o samba fica.

Outra coisa: Por quê essa laia sempre se refere ao samba no diminutivo? Eles falam Roquinho, MPBzinha ou Blueszinho? Por quê diabos então chamam de sambinha, e no carnaval o que bombam são os bloquinhos?

Para finalizar, uma música que ilustra bem a situação. Com vocês, Nei Lopes, que não tem lero-lero e chuta o balde na hora que deve chutar, sem perdão, como faz em seu novo CD. Outro dia eu falo desta obra.


Samba de Fundamento
(Nei Lopes - Maurílio de Oliveira - Magnu Sousa)
Vestiu o meu terno de linho e ficou feito um morto
Calçou meu pisante branquinho e sentiu desconforto
Botou na cabeça um chapéu assim como uma flor
Pegou meu pandeiro e bateu com mais ódio que amor

E aí, foi catando cavaco em fundos de quintais
Arfando como quem viola templos virginais
E como era sambista, só porque seu rei mandou
Vibrou minha sétima corda e nela se enforcou

O samba vem de muito longe
De antes da praça Onze
De emoções ancestrais
Candeia por sinal já dizia
Que ele é filosofia

Não é moda fugaz
O samba é uma coisa de dentro
Tem o seu fundamento
E os seus rituais
E a gente só penetra essa seita
E em seu colo se deita
Quando sabe o que faz

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Mas samba enredo, só ganha um


Sob os mandamentos de Momo, venho aqui desta vez falar de outra paixão de todo brasileiro: o carnaval. Sempre fui e até hoje sou um admirador assíduo dessa festa tão democrática e livre - por mais que queiram mudar isso - onde todo mundo pode tudo e até quem não era de fazer, faz. É, e sempre foi assim, desde os tempos do império, quando o couro comia e alta nobreza perdia a linha nas arruaças do entrudo.

Porém, por mais que o brasileiro pense na festa o ano todo, ainda é outubro e não é hora de falar do carnaval. Pode ser, seim, a hora de falar de samba-enredo! Outra coisa que sempre me cativou. Hoje em dia, graças à internet, podemos saber mais cedo ainda, sem muito esforço, os sambas que vão concorrer para se tornarem as músicas oficiais dos desfiles. Neste ano, por sinal, ando ouvindo muitos, e sei que as agremiações estão na reta final para elegerem seus sambas. Por isso, vou tentar dar aqui minha humilde opinião dos meus preferidos.

No embalo do verso de Wanderley Monteiro que ilustra o título deste post vamos pisando devagarinho para analisar o que podemos esperar para o Carnaval 2010.

O Salgueiro e a Vila já escolheram seus sambas. O primeiro traz um que eu não gosto muito, mas, por outro lado, tem um pouco a cara da escola e dá pra imaginar o Salgueiro embalando a avenida com a música, que não é ruim. O enredo é sobre o Livro e apesar de curto no nome é amplo na ideia, o que facilita a letra não ficar muito específica, mas o refrão é bom. Ouçam aqui e tirem suas conclusões.

A escola de Noel Rosa resolveu homenageá-lo neste ano de 2010 quando se completa 100 anos de seu nascimento. Apesar de haver a disputa, já estava claro que a obra - tão importante pra Vila, afinal de contas vai cantar seu maior personagem - ficaria sob autoria de outro grande poeta, Martinho, que depois de muito tempo emplacou o hino da escola. Confesso que na primeira vez que o samba foi divulgado não gostei muito, mas depois de alguns ajustes o negócio mudou, e promete passar bonito. Os 6 primeiros versos fazem quase um plágio do próprio Martinho de um outro samba seu, "Presença de Noel". Mas, que mal tem? Como o que é bom repete e é tudo dele, deixa o cara reprisar o que ele quiser da maneira que lhe convém.O Martinho arrebentou. Com isso ganham ele, a Vila e nós. O samba é emocionante e deveria ser mais cadenciado, pois na gravação oficial na voz do Tinga está um pouco corrido. Aqui.

A Mangueira, agora presidida por Ivo Meireles, resolveu passar a disputa das semis e finais no Vivo Rio, deixando a imponência do Palácio do Samba e de sua comunidade de fora da festa, visto que os ingressos serão mais caros. Além da disputa do samba, alguns shows de amigos do vosso presidente também vão rolar, como Fernanda Abreu, Funk 'n Lata e Jorge Vercillo. Fiquei tentando imaginar como seria começar uma disputa de samba enredo depois da apresentação do Jorge Vercillo e vice-e-versa. Deixa pra lá.

Voltando. A disputa na Mangueira tem novamente 3 parcerias que vêm chegando às finais constantemente. Delas, a que mais me agrada e acho que deveria ter levado no ano passado é a de Machado, Renan Brandão, Paulinho do Bandolim e Rodrigo Carioca. Novamente a música vem com uma melodia muito bonita e a letra impecável, aliando a história de sambas da Mangueira com a trajetória da música brasilera, desde a época de ouro do rádio até o funk carioca. Aqui. (Os outros são esses: 1, 2, 3)

A Portela vem com um enredo atual falando da internet. Para quem, assim como eu, pensava que poderia ser difícil fazer um samba enredo falando de links, downloads, homepages e tudo mais, não se surpreende. Soa tudo meio estranho no meio das músicas, realmente. Ficam parecendo sambas de bloco.

Com 5 finalistas, vou destacar duas parcerias. A primeira, a tricampeã da turma do Diogo Nogueira e Ciraninho. O samba não é brilhante como o do ano passado, que foi o melhor dos três que o filho do mestre João emplacou, mas tem muita força dentre os outros concorrentes - aqui.

Porém, o que bate de frente neste ano e pra mim leva a disputa é o do Serginho Procópio, Bandeira Brasil, Celso Lopes, Charlles André e João Carlos Filho. É realmente muito difícil um samba com "tecnologia" no refrão embalar, mas nesse caso, eles acertaram e o destaque vem também na segunda parte, pela melodia, que é muito bonita. Aqui.

Os outros da Portela são esses: 1, 2, 3.

Acho que por hoje é só, deixa o resto pra amanhã.
E segue a música...

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Goles e gols


O último domingo foi um dia especial para fechar o fim de semana. Como todo ritual de jogão do mengão no maracanã, os trabalhos começaram cedo, a farra de "longnecks" no Chico's foi boa e pra fechar a noite, o Imperador arrebentou.

Tudo começa quando dá 11h e eu chego na casa de meu caro amigo Jayme - advogado, por ora, e futuro mestre cervejeiro de sucesso - para ajudá-lo a esvaziar um pouco sua geladeira particular que possui em seu butiquim - quarto.

parênteses...

Quando eu digo "geladeira particular" e "butiquim - quarto", estou falando a mais pura verdade. O quarto dele é composto por uma cama, armário, uma estante de livros, computador, TV, geladeira, um balcão, e pra decorar, uma estante cheia de garrafas dos mais variados tipos de cerveja de diferentes lugares do mundo. Todas consumidas pelo dono da casa e convidados.

...voltemos.

Jayme me chamou para arrebatar algumas inglesas que já estavam na sua geladeira fazia tempo. Como não nego aos suplícios dos amigos, fui e levei o petisco.


Começamos com a London Pride, cerveja avermelhada e um pouco mais forte que o normal que desceu bem demais e deu sinal de que o dia, apesar de tempo fechado, iria ser bom. Depois passamos para a Honey Dew, uma cerveja orgânica, que traz um curioso rótulo. Boa cerveja, cheirosa e saborosa.



As cervejas foram ficando mais fortes, veio uma Old Speckled Hen, e posteriormente, London Porter, escura, um soco no peito com prazer. Por fim, uma Bohemia Oaken, cerveja especial, brasileira; uma 1845, que fazia uma espuma espessa, coisa linda de se ver; e a Hen Tooth, pra fechar. Aí amigo, a chuva já caía forte e mais forte ainda era a empolgação pro maraca.


Como brinde, ainda fomos provar uma cerveja chinesa - isso mesmo, uma gelada "made in china" - a Tsingtao, à base de arroz. Confesso que não era boa, mas não podíamos desperdiçar a caixinha com 6, então pelo menos duas cada um teria que matar. E fomos assim para o templo do futebol.

O final da festa nem preciso dizer. O único problema é essa lei que não deixa a gente curtir a vitória do mais querido matando a sede com uma cervejinha anda me dando um desgosto profundo. Mas aí é outra história.

Pra quem quiser ler uma análise técnica e mais aprofundada sobre as cervejas citadas neste texto, é só visitar o blog do Jayme, Taberna do Mamute. Lá sim se fala de cerveja com seriedade.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Lirismo do Rio


Amanhã (01/10) o Teatro Rival vai abrir as cortinas para o lançamento do segundo CD do Galocantô. Ótimo programa para quem quer ouvir belas músicas de um grupo que mostra que gente nova faz samba e não precisa só interpretar as obras dos mestres do passado.

O pouco que sei desse novo trabalho, "Lirismo do Rio", é que mais uma vez o grupo traz um disco com a maioria das músicas inéditas e muitas delas autorais, assinadas, principalmente por Edson Cortes, Rodrigo Carvalho e Lula Mattos. Além disso eles regravam "Meu Baio e Meus Balaios", do Wilson Moreira; e apresentam "Resistência" (me corrijam se estou errado quanto ao nome da música) do Nei Lopes com Zé Luiz do Império.

Sei também que tem muita música boa de novos compositores, como "Arte do Povo" - de Baiaco, Paulo Franco e Mingo - que traz um verso que desde que a ouvi numa noite etílica no Trapiche Gamboa, jamais esqueci: "É dom, é raiz, é verdade, é identidade, é a arte do povo / o tempo envelhece e o samba permanece novo".

Me lembro uma sexta feira, no fim do ano passado, em que fui ao Centro de Referência da Música Carioca assistir à gravação do Galo para um programa da TV Brasil. Na época estava em período de Monografia na faculdade e tinha combinado com o Edson Cortes, o Dinho, uma entrevista para me ajudar no trabalho. O tema era sobre as rodas de samba. Após o show sentamos num boteco - perto do CRMC - eu, Dinho e Marcelinho Corrêa, o maior 7 cordas da chamada nova geração do samba.

Gravador no "rec" em cima da mesa, abre-se a primeira gelada e começa o papo. No princípio, só o Dinho falava, mas depois de mais algumas Brahmas, o Marcelo começou a dar seus depoimentos. Na mesma noite, Marcelinho ia fazer um show na Lapa, então fomos em seu carro para o bairro, que àquela altura - era umas 21h30 - já estava bombando. Enquanto o negócio não começava e o cara tava passando o som dentro do bar, eu e Dinho fomos molhar o bico num isopor ali no começo da Men de Sá.

Eu não iria poder entrar no bar e tampouco ficar na Lapa a noite toda, Dinho também não ficaria. Então continuamos bebendo. O papo foi fluindo, e posso dizer a vocês que foi uma daquelas noites históricas, os dois em pé em frente ao isopor falando de samba, contando histórias e ouvindo muito (da minha parte). Dinho, grande compositor que é, cantarolou vários sambas seus, e eu, sem nenhuma pretensão, cantei alguns também que me arrisco a fazer de vez em quando. Uma honra.

Conversa vai e vem, muitas trocas de latas amassadas por cheias, alguns churrasquinhos para arrematar e conhecidos que passavam por ali para interromper um pouco, eis que Dinho destrincha todo o repertório que estará presente no CD lançado amanhã. Coisa fina, e muito boa, e que espero por quase um ano com muita ansiedade para, enfim, poder ouvir com prazer.

Quando vimos, já era tantas da madrugada, mas não importava. Eu não me lembro, mas qualquer compromisso que poderia ter naquele dia foi justamente desmarcado pela noite histórica encostado no isopor falando sobre samba e ouvindo histórias de um cara que vive intensamente a música e sabe tudo sobre o assunto.

A Dinho, Biro, Marcelinho, Gamarra, Leo Costinha e Lula, o meu muito obrigado e axé para que amanhã seja mais uma noite pra ficar na lembrança!

Vale a pena conferir no site do grupo - www.galocanto.com - vídeos especiais que antecipam o que pode vir no novo CD. Eu até garimpei um de lá.

Com vocês, um pouco de "Fotografia de Papel", de Rodrigo Carvalho e Fred Camacho.
E segue a música...



segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Para abrir os trabalhos

Antes de tudo, neste primeiro post de um blog de mais um metido a pensador - ou não - nesta grande rede que mobiliza todos nós (respira), é preciso explicar (na verdade não é preciso mas eu quero) o nome - Calço de Mesa.

O calço de uma mesa sempre está ao meu lado. Ele segurava, na infância, o campo do jogo de botão em cima da mesa; e hoje, faz com que o copo suado não escorregue. Enfim, eu poderia ficar de muito blá blá blá e até meio poético para explicar, mas na verdade, existem 3 coisas que me deixam muito irritado: caixa postal de celular, CD arranhado e mesa bamba. Talvez seja por isso que eu preze tanto a função do Calço.

O calço de mesa funciona muito bem em lugar onde pode-se dizer tudo, e principalmente escutar. Histórias, jargões, lembranças, verdades e mentiras: o butiquim é o melhor pra isso. Por isso, este calço pretende fazer da democracia dos butiquins, e da(s) sabedoria(s) que lá se concentra(m), um espaço de reflexão e informação. Não pretende trazer o butiquim para internet, prática exercida por muitos blogs que por aí estão e fazem isso com louvor, mas sim, simplesmente abrir a janela para falar, escrever e ouvir, que é o que mais faz um calço, além de segurar a mesa.

O pior de um butiquim é que muitas conversas lá são jogadas fora, uma pena, pois o bom é sempre guardar essas grandes frases e histórias. Este blog vai tentar fazer com que esse arsenal seja armazenado e sempre lembrado. Assunto é o que não falta - futebol, samba, música, política (mas só um pouquinho), mulheres... emfin, tudo ou quase. O que vier a gente manda.

E pra começar a ilustrar isso tudo, deixo aqui uma música que presta a homenagem ao personagem maior dentro do cubo de azulejos trabalhados: o chato. Muitos de vocês já podem ter visto este vídeo e se apaixonado pela música de Jota Canalha, bom bebedor, e sambista sem papas, politicamente incorreto. Aproveito para saudar a todos aqueles que fazem do boteco uma verdadeira curva de rio, mas que sem os próprios tudo seria muito diferente.

Um abraço, e segue a música...