quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Cuidado com a sétima corda



É muito bom falar de samba e ver como ele está caindo cada vez mais no gosto dos jovens, principalmente, no Rio de Janeiro, seu berço, de fato. Uma prova disso é o grande número de grupos que vai surgindo no embalo da chamada "nova geração da Lapa", que trouxe o bairro de volta à tona nos cantos de Teresa Cristina, Galloti e cia.

Nessa maré, é claro que nem tudo são flores, há o pessoal que tem talento, que ama o samba e que realmente quer levar isso pra frente, mas também, tem muita mentira, muita modinha e muitos aproveitadores.

Eu já esquentei muito a cabeça com esse troço e confesso que era meio "xiita" quando se tratava de samba. Hoje, simplesmente, procuro separar as coisas. Frequento, escuto e apoio o que gosto, e o que não gosto, quero distância. Respeito, mas eles lá e eu aqui.

Se o cara até quatro anos atrás só gostava de rock'n roll, tinha bandinha na escola, e a coisa mais diferente que fazia do seu universo era sair para as noites de forró pra dançar e pegar umas mulherezinhas - que era a moda há algum tempo, quando essa galera nao falava de samba - e hoje, é integrante de um grupo que faz sambinha na faculdade e que em seu repertório traz só mestres do SAMBA DE RAIZ, como Cartola, Nelson Cavaquinho e João Nogueira, tudo bem. Deixa. É muita malandragem.

Engraçado como é essa galera. Samba, pra eles, é Cartola ("Alvorada" / "As Rosas Não Falam" / "Corra e Olhe o Céu"), Nelson Cavaquinho ("A Flor e O Espinho" / "Folhas secas" / "Juízo Final"), e o João Nogueira (O Poder da Criação). Só. É assim que eles tiram onda nos sambinhas que vão. E ainda, não têm nem o interesse de saber um pouco mais sobre esses compositores citados. De outros então...

Antes de me interpretarem mal, não vejo problema em gostar de samba e também ouvir rock, rap, blues, o diabo que for. Todo mundo deve escutar música boa, seja ela em qualquer estilo. O problema é começar a ouvir samba e achar que com 3 músicas do Cartola ou do Candeia já sabem tudo sobre o samba. Sua história, filosofia, e o mais importante, sua essência.

É muita malandragem.



Portanto, meus caros, em matéria de samba novo, de nova geração, o negócio é prezar quem está aí pra continuar essa história, e não quem está só de passagem. Vamos prestigiar grupos, cantores e cantoras que sabem o que estão fazendo nos palcos, bares e outras casas de shows.

Que estão presentes nas rodas de samba, sem medo e, principalmente respeitando e reconhecendo o trabalho de quem já deitou na cama merecidamente. Aqueles que além de reverenciar a velha guarda, lembrando sempre seus sambas, estão aí compondo, apresentando e criando, coisa que o samba precisa, porque o tempo não espera ninguém. O samba, como tudo na vida, necessita de renovação, sangue novo, nova carga. "Luar que não muda, não muda a maré", já dizia Wilson Moreira.

E pra esse pessoal que tá aí no circuito pra cantar música manjada e pegar as dondocas, deixem onde estão. Uma hora eles encontram outro sucesso, e formam outras Bandinhas. A moda passa e eles passam, mas o samba fica.

Outra coisa: Por quê essa laia sempre se refere ao samba no diminutivo? Eles falam Roquinho, MPBzinha ou Blueszinho? Por quê diabos então chamam de sambinha, e no carnaval o que bombam são os bloquinhos?

Para finalizar, uma música que ilustra bem a situação. Com vocês, Nei Lopes, que não tem lero-lero e chuta o balde na hora que deve chutar, sem perdão, como faz em seu novo CD. Outro dia eu falo desta obra.


Samba de Fundamento
(Nei Lopes - Maurílio de Oliveira - Magnu Sousa)
Vestiu o meu terno de linho e ficou feito um morto
Calçou meu pisante branquinho e sentiu desconforto
Botou na cabeça um chapéu assim como uma flor
Pegou meu pandeiro e bateu com mais ódio que amor

E aí, foi catando cavaco em fundos de quintais
Arfando como quem viola templos virginais
E como era sambista, só porque seu rei mandou
Vibrou minha sétima corda e nela se enforcou

O samba vem de muito longe
De antes da praça Onze
De emoções ancestrais
Candeia por sinal já dizia
Que ele é filosofia

Não é moda fugaz
O samba é uma coisa de dentro
Tem o seu fundamento
E os seus rituais
E a gente só penetra essa seita
E em seu colo se deita
Quando sabe o que faz

3 comentários:

  1. Cara achei um absurdo esse seu comentário, eu tenho um grupinho que toca um sambinha no Centro Acadêmico da minha facul e geral se amarra. E po, dois anos atrás eu tocava forró lá e geral também se amarrava mas agora dizem que nosso sambinha de raiz é muito melhor. Num tem nada a ver essa parada de essência que você falou, eu vou no Demo, em Santa, em tudo que é lugar de raiz do samba. E conheço sim muito bem a obra dos mestres do samba, Cartola, Nelson Cavaquinho, do pai do Diogo Nogueira que agora não me lembro o nome, mas eu me amarro mesmo é naquela musica do chico, "sem compromisso".

    Tá falado!!!

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  2. Dingolino das Condonga30 de outubro de 2009 às 13:38

    Eu acho que vc é um merdalhão. Fica falando isso mas não sabe de nada.

    Vc é daqueles que usa chapéu panamá e é fã dos sambas dos anos 60 e 70.

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  3. Vim de chapéu Panamá, do Império de lá, me encantar por aqui.

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