quinta-feira, 11 de março de 2010

Marçal, o meio de uma dinastia

Pesquisando o acervo particular, encontrei uma pérola na voz do Mestre Marçal mandando um aviso à nova geração de sambistas. Mas não é esporro, só uma ideia.

Na mesma leva, o espaço do blog fica à disoposição do texto de meu amigo e parceiro Gabriel Andrade sobre o sambista e a música que tanto estou ouvindo hoje.

Detalhe: não tenho a autorização do autor para a reprodução porque o próprio se encontra em viagem de férias. Espero que ele, como advogado que é, não venha me processar por causa disso.

Vai que é sua, Biel!

"Nilton Delfino Marçal vem de um berço que não era repleto de ouro ou jóias, não descendia da aristocracia carioca, contudo não há de se negar que também era esplêndido. Nasceu no ano de 1930 no carioquíssimo bairro de Ramos dando continuidade a uma verdadeira dinastia no samba.

Filho de Armando Vieira Marçal, que ao lado de Alcebíades Barcellos, o Bide, ajudou a consagrar a nova maneira de se fazer e cantar samba do Estácio, Mestre Marçal se mostrou um verdadeiro coringa em matéria de samba.

Poucos comandavam com tanta maestria baterias de escola de samba como ele, com suas afinações de instrumentos bastante particulares, como comprovado em seu disco “A incrível bateria do Mestre Marçal” (1988), disco em que gravou com bateria comandada por ele tocando o fino dos sambas-de-enredo. Sua historia com as escolas de samba teve inicio na agremiação Recreio de Ramos, onde começou na ala de tamborins. Seguiu sua trajetória de sucesso indo para a Unidos da Capela, Império Serrano e, por fim, Portela, escola na qual comandou por 20 anos a bateria, saindo nos anos 80 após desentendimentos com o então presidente Carlinhos Maracanã.

Porém, Marçal não se contentou com sua trajetória de mestre de bateria, seguindo também para uma carreira, não menos brilhante, de cantor. Nesta, resgatava sambas históricos da dupla Bide e Marçal, como em “Não Diga a Ela Minha Residência”, passando por outra dupla, esta mais contemporânea, na linda melodia de “Desalento”, de Chico Buarque e Vinicius de Moraes, chegando à geração do Pagode (entende-se a geração Cacique de Ramos, protagonizada pelo Grupo Fundo de Quintal e Zeca Pagodinho, e não o neo-pagode, gênero introduzido à força pela mídia no contexto do samba, mas isso é outra discussão), com a gravação da irônica “Até de Avião”, dos irmãos Arlindo Cruz e Acyr Marques, e Luiz Carlos da Vila.

Outra virtude sua eram as frases sempre fascinantes como: “quem muito procura, quando acha não reconhece” e “não me interessa o preço da banha, eu quero é comer engordurado”. Quando lhe perguntavam como andava, respondia de bate-pronto, “vou comendo pela beirada enquanto o meio esfria”.

Para encerrar o papo sobre o Mestre Marçal, deixo um recado gravado por ele em seu LP "Senti Firmeza", gravadora Barclay/Polygram, no ano de 1986. A faixa, intitulada "Aos Novos Compositores", do trio Arlindo Cruz, Acyr Marques e Chiquinho Virgula, manda um recado à nova geração de compositores, que será sempre responsável por dar sequência à tradição legada pelos velhos bambas, mostrando que a raiz do samba continua dando frutos em profusão."









Um comentário:

  1. Se faltava autorização agora não falta mais. E você tinha parcial razão, este texto postado no nosso antigo blog não é seu mas també não é meu: é nosso.

    "Pois nessa terra de ninguém o samba se mantem porque mantém a tradição"

    abraço

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